22 de setembro de 2012

Igarapé Miri está entre as 100 cidades mais violentas do Brasil.

Ananindeua é o terceiro município do País mais violento para crianças e adolescentes, conforme Mapa da Violência 2012, um dos recordistas em óbitos de habitantes, com idade entre 1 e 19 anos, por acidentes de trânsito, suicídios e, sobretudo, homicídios. No ano de 2010, a cada grupo de 100 mil jovens, 88,6 morreram assassinados. A taxa de homicídios de crianças e adolescentes do município é seis vezes superior à média nacional (13,8), considerada a quarta maior entre todos os países do mundo.
O Mapa da Violência aponta 149 homicídios de jovens em 2010, quase um assassinato a cada dois dias, só superado pelos municípios baianos de Simões Filho e Lauro de Freitas, onde os índices foram de 134,4 e 94,6, respectivamente. Os dados tem por base o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde. Ananindeua está também entre as maiores taxas de violência sexual contra crianças e adolescentes do País - 79,6 vítimas a cada cem mil habitantes até 19 anos. É o sétimo maior indicador do País, cinco vezes acima do registrado em todos os municípios brasileiros (16,4). No Estado, só é superado por Benevides, com 130,6 casos a cada cem mil (3ª do País). As principais vítimas de Ananindeua foram as crianças. Foram atendidas 134 crianças com menos de um ano de idade vítimas de violência sexual; 130 com idade entre 1 e 4 anos; dez, entre 5 e 9 anos; e sete adolescentes de 10 a 19 anos. 'Esses números permitem inferir que existem municípios que atuam como verdadeiras usinas na produção de violências contra crianças e adolescentes, tamanha a concentração de incidentes que o SINAN registra. Deverá corresponder às diversas instituições responsáveis, seja em nível federal, estadual ou municipal, analisar e diagnosticar cada realidade e tomar as medidas necessárias para conter e reverter essa situação epidêmica de violência contra as crianças e adolescentes', comenta o estudo. O trânsito é outra causa de morte de crianças e adolescentes. Ao longo de 2010, a pesquisa mapeou 33 vidas de crianças e adolescentes ceifadas em acidentes, ou 19,6 vítimas em 100 mil - 59ª posição no ranking nacional e 3ª no Estado, atrás de Marabá, com média de 23,6/100 mil; e Redenção, com 23,1/100 mil. O município da região metropolitana é o único do Estado que figura em todas as listas das 100 maiores cidades responsáveis por mortes trágicas, com exceção da de suicídio. O menor percentual de mortes de jovens em Ananindeua aparece no quesitooutros tipos de acidentes, caracterizados, por exemplo, por tragédias como incêndio, afogamento, choques elétricos, quedas, inundações etc. A cidade metropolitana registrou o índice de mortalidade de 14,3 (24 registros - dois por mês), ainda assim, o 4º pior cenário
do Brasil.
 
 Os dados negativos em Ananindeua contrariam as conclusões do Mapa da Violência 2012, que constatou, em todo o País, a violência contra as crianças e adolescentes migrando dos grandes centros urbanos para as regiões mais pobres. O autor do estudo, o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (CEBELA), explica que, com exceção do Pará, os outros estados vivem, nos últimos anos, a “interiorização da violência.” Segundo ele, a tendência dos dados nacionais revela uma mudança não só para cidadesdo interior, mas para Estados menores e de menor estrutura de combate ao crime. “A partir de 2004 já indicávamos uma mudança nos padrões de evolução da violência homicida no País. Se até 1996 o crescimento dos homicídios centrava-se nas capitais e nos grandes conglomerados metropolitanos, entre 1996 e 2003 esse crescimento praticamente estagna e o dinamismo se transfere aos municípios do interior dos estados”, explica. Segundo Waiselfisz, Ananindeua ainda é um dos poucos “polos dinâmicos da violência homicida” em regiões metropolitanas. “O maior exemplo disso, são as fortes quedas na região Sudeste, onde homicídios de crianças e adolescentes despencam 64,7%. Já nessa região (metropolitana de Belém) os números crescem assustadoramente”, explica. A concentração populacional na região metropolitana, o crescimento econômico de algumas regiões do Estado e a falta de políticas públicas são apontadas como as principais razões para a explosão de violência contra os jovens nas mediações da capital paraense pela professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA), presidente da Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Pará, e coordenadora do Programa de Atendimento às Vítimas de Violência da UFPA, Luanna Tomaz. “Há investimentos em grandes projetos no Estado, mas não tem uma contrapartida em infraestrutura. A população é pobre e precisa de condições melhores de vida. Ananindeua é uma cidade que está próxima da região metropolitana, mas que ainda tem regiões muito precárias, com vários problemas, que, claro, motivam a violência urbana. Também não se tem investido em políticas voltadas a questão do adolescente. Com esse aumento da violência urbana no município, no Estado, no Brasil, como um todo, cresce também o sentimento que coloca o jovem como o grande autor. Isso não corresponde à realidade dos fatos. Os crimes praticados pelos adolescentes são crimes contra o patrimônio. Mas para a população, os jovens estão matando. O Mapa da Violência mostra que eles estão é morrendo”, explica. Ela denuncia que, em todo o Estado, só há duas Delegacias Especializadas no Atendimento às Crianças e Adolescentes e poucos leitos para o tratamento de jovens que usam drogas. “Só tem uma (delegacia) em Belém e outra em Abaetetuba, por causa do episódio, de repercussão nacional, da menina presa com os homens. As outras foram desativadas. Em Marabá e Santarém foram desativadas para virar delegacias de Conflitos Agrários. Então, não temos delegacias voltadas ao atendimento de crianças e adolescentes. Enquanto muitos Estados investem em políticas públicas voltadas à inserção dos jovens,
no Pará eles estão esquecidos. Tem também a questão das drogas e, novamente, nenhuma política pública. Em todo o Pará, são apenas dez leitos de internação para os usuários de drogas. É uma situação de descaso total”, reclama. Segundo o Mapa da Violência 2012, os assassinatos dejovens no Pará estão concentrados em mais cinco municípios, além de Ananindeua. Marituba, na 14ª posição no ranking nacional, tem a segunda maior taxa de homicídios de jovens no Estado. São 55,6 jovens mortos em grupos de 100 mil. Marabá (43,1) e Belém (39,5) surgem em seguida, com posições nacionais de 28º e 39º, respectivamente. Da região sudeste do Estado ainda aparecem Redenção, no 52º lugar, com taxa de 36,3; e Paragominas, em 68º, média de 30,5 a cada cem mil. O último integrante paraense da lista dos cem municípios mais violentos para crianças e adolescentes do Brasil é Igarapé-Miri, na 93ª posição, com índicede homicídios de 26,5/100 mil. No quesito violência sexual, depois de Benevides e Ananindeua, aparecem Belém (79,0/100 mil), Marituba (48,3), Acará (47,0), Abaetetuba (41,7), Igarapé-Miri (41,6) e Moju (41,2). Nas mortalidades por acidentes de transporte se destacam Marabá, com taxa de 23,1 (32º lugar nacional) e Redenção, com 23,1 (34º). Já em relação a outras formas de acidentes aparecem Breves (28,9), Santa Isabel do Pará (22,1), Ipixuna do Pará (21,5), Marabá (20,5), Jacundá (18,6), Itupiranga (16,9), Parauapebas (15,9) e Altamira (14,8).
Fonte: O Liberal

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