1 de maio de 2015

'Abridores de letras' embelezam os barcos que cruzam os rios do Pará

Artistas batizam as embarcações, pintando o nome no casco. São pessoas simples que criaram uma tradição tipicamente ribeirinha.

Uma tradição familiar enriquece a cultura e embeleza os barcos que cruzam os rios do Pará. São os chamados “abridores de letras”, como também são conhecidos os artistas que batizam as embarcações, que pintam os nomes nos barcos. Uma gente simples, autodidata e que sem se dar conta criou uma tradição tipicamente ribeirinha, uma forma de cultura itinerante.
Com o talento de um artista popular, aos poucos o barco vai ganhando uma identidade. “A maioria leva o nome do dono da embarcação, quando não é o nome do dono é o nome do pai, da mãe”, conta Rubens Lourinho, abridor de letras.
O abridor de letras conta que lembrar tantos nomes é impossível, afinal, foram muitos em 30 anos de profissão. Rubens é de Igarapé-Miri e sempre gostou de desenhar. Mas, justo a primeira chance dele pintar barcos veio em uma época de muito contrabando de animais na região. “A gente apagava o nome do barco de madrugada e quando o barco amanhecia aqui já era com outro nome, para driblar a fiscalização”, relata Rubens.

Criatividade
O vai e vem das águas dos rios revela a criatividade dos artistas. As letras são sempre muito coloridas e enfeitadas, é um truque pra chamar a atenção.
As viagens mantêm ainda uma espécie de troca de experiências entre pintores de letras que não se conhecem. “A pessoa pinta no Marajó, mas o barco vem até Igarapé-Miri. O pintor daqui olha e fala: nossa, viu? Muda um pouquinho e vai tendo diferentes estilos”, ressalta a design Fernanda Martins.
Fernanda e Sâmia são designers e decidiram divulgar essa manifestação da cultura amazônica. O projeto “Letras que Flutuam” deu origem a uma expedição que identificou 41 abridores de letras em Belém e em mais três cidades do interior do Pará: BarcarenaAbaetetuba, e Igarapé-Miri.
Tudo foi registrado em vídeo que caiu na internet e no gosto de muita gente de outros países. “Nós recebemos vários pedidos de pessoas interessadas em adquirir essas letras, desdobramento pro futuro”, afirma Sâmia Batista, designer.
Tradição familiar
Robson Portilho tinha sete anos quando começou a acompanhar o pai até as embarcações. E de tanto olhar como Rubens trabalhava, descobriu que levava jeito para o ofício. Até que um dia foi chamado para ajudar. “Fui fazendo, quando terminou o serviço ficou bom e aí eu fui me aperfeiçoando cada vez mais”, conta o estudante.
O genro do abridor de latas também quis aprender assim que entrou para família, mas não entendia nada de pintura. Ele espera uma oportunidade para pintar sozinho o nome de um barco. “Não é difícil, basta ter paciência e força de vontade para aprender. A minha tendência é só melhorar nessa profissão, né?!”, diz o estudante Elias Alcântara.
E assim Rubens vai formando novos abridores de letras que têm pela frente um alfabeto de possibilidades. “Cada letra que eu faço, quando eu termino, aprimoro o meu trabalho”, afirma o abridor de letras.

Do G1 PA



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