5 de outubro de 2011

Crime e revolta na alça viária

O assassinato do mototaxista Abraão de Souza Batista, 21 anos, durante um assalto na estrada que liga Igarapé-Miri à Vila de Maiuatá, sexta-feira passada, foi esclarecido no final da tarde e início da noite de ontem. A Polícia prende os dois suspeitos do latrocínio. Edgar dos Santos Lima, 22 anos, e um adolescente de 17 anos foram apresentados pelo advogado Marsal Crema na Delegacia Geral, em Belém. Quem ouviu os dois acusados foi a superintendente regional da Polícia Civil no Baixo Tocantins, delegada Andreza Martins Franco. Edgar não falou com a imprensa, mas, em uma pausa no depoimento do acusado, a delegada Andreza disse que ele acusou o adolescente de ser o autor dos três disparos que mataram Abraão. Disse também que o infrator planejou o assalto, com a intenção de roubar a motocicleta da vítima.
As acusações de Edgar, entretanto, ainda serão checadas pela delegada, que ficou de ouvir o depoimento do adolescente. Por segurança, já que os dois suspeitos poderiam ser linchados por moradores de Igarapé-Miri revoltados com o crime, os dois acusados de latrocínio ficaram de ser encaminhados a uma unidade prisional da Grande Belém.
A apresentação de Edgar Lima e do adolescente ocorreu por volta das 17 horas, na Delegacia Geral, na avenida Magalhães Barata. Segundo o advogado Marsal Crema, Edgar é uma pessoa humilde que mora na Vila de Maiautá e trabalha como tatuador. O advogado do acusado disse que Edgar teve participação no crime, por estar presente no momento em que a vítima foi morta.
A delegada Andreza Franco afirmou que o assassinato de Abraão Batista ocorreu por volta das 20h30 horas de sexta-feira passada, quando foi aberto o inquérito policial para investigar o crime. 'O maior, acusado do crime, declarou que quem atirou na vítima foi o adolescente. Foi usado um revólver calibre 38', disse a delegada, informando que, segundo o relato de Edgar, o adolescente planejou todo o assalto. 'Nós estamos apurando a veracidade dessas declarações, e, inclusive, a informação de que eles enterraram o objeto do roubo, a motocicleta, e que jogaram a arma do crime em um rio'. Além do adolescente, a delegada Andreza pretende ouvir outras testemunhas do latrocínio.
A policial disse que os dois acusados apanharam o veículo do mototaxista e seguiram para a estrada que liga Igarapé-Miri à Vila de Maiuatá. No percurso, os dois passageiros pediram ao mototaxista para parar o veículo que ele querima urinar. Nesse momento, a vítima foi surpreendida pelos bandidos, que atiraram três vezes em Abraão, Duas das balas atingiram o mototaxista, as quantidade de tiros disparados e quantos acertaram o trabalhador ainda não foi checada oficialmente.
Tráfego é interrompido durante seis horas

Revoltados com a morte do mototaxista Abraão de Souza Batista, moradores Igarapé-Miri, município situado a 96 km de Belém, no Nordeste do Estado, fecharam a Alça Viária por mais de seis horas, durante a manhã e a tarde de ontem. O protesto contra a violência e a insegurança provocou um gigantesco engarrafamento na rodovia
Paus, galhos e veículos particulares foram usados para fazer o bloqueio das duas pistas. O clima era tenso até a tarde de ontem, já que a população, revoltada, exigia que a Polícia Civil prendesse os dois suspeitos do crime.
A manifestação foi organizada por duas associações de mototaxistas da cidade, a 'Asmir' e 'Amir', com o apoio de vereadores, comerciantes, líderes comunitários e familiares do mototaxista assassinado. Durante o bloqueio da pista, que se estendeu das 9 horas até por volta de 15h20, os manifestantes apresentaram uma série de reivindicações, como a instalação de uma delegacia de Polícia Civil - há uma no município, porém ela funciona em uma casa improvisada, enquanto as obras da sede 'oficial' se arrastam há mais de um ano -, a pavimentação das rodovias e o aumento do efetivo policial na cidade. 'Estamos completamente abandonados aqui, a situação do Abraão foi apenas a gota dágua', disse o mototaxista e vereador João do Carmo, um dos líderes do movimento. 'Não é só questão de violência. As rodovias estão sem pavimentação nova, falta iluminação, não tem PM para cobrir todas as ruas da cidade', enumera.
Essa foi a terceira vez em que a Alça Viária foi fechada para chamar a atenção das autoridades. Ao contrário das vezes anteriores, não houve confronto direto com a Polícia, mas várias guarnições da Superintendência do Baixo Tocantins da Polícia Civil e dos grupos Táticos e de Choque da Polícia Militar (PM) tiveram interferir em alguns momentos de tensão. Por volta de 13h, uma comissão organizada pelos manifestantes disse que audiências com representantes da Secretaria de Estado de Transportes (Setran) e da Secretaria de Segurança Pública (Segup) haviam sido marcadas – a primeira para ontem mesmo, enquanto qa Segup receberá a comissão às 16h de quinta-feira –, com a condição de que a Alça Viária fosse desobstruída.
Congestionamento se estende por mais de três quilômetros da estrada
Mais de três quilômetros da rodovia ficaram engarrafados. Moradores desavisados tinham de ultrapassar a barreira e atravessar a zona rural da cidade para pegar os ônibus, impedidos de entrar. Da mesma forma, quem vinha da capital nos coletivos precisava descer em meio ao protesto para prosseguir viagem. A falta de unidade entre os líderes do protesto transpareceu nessa hora. Muitos dos manifestantes - em especial os mototaxistas - optaram por não sair do meio da pista, mesmo sabendo que as reuniões com Segup e Setran estavam marcadas. Até a imprensa foi impedida de transitar na cidade por algum tempo. Somente com a interferência da Polícia Civil é que a situação foi contornada. 'Assim a negociação não vai sair. Precisamos sair da pista para atingir nossos objetivos, já conseguimos chamar a atenção das autoridades', disse um líder, sob vaias de dezenas de manifestantes.
Sob pressão da POlícia Militar, que ameaçava investir caso a obstrução continuasse, os manifestantes foram se dispersando pouco a pouco. Muitos rumaram para a frente da delegacia improvisada de Igarapé-Miri, situada no centro da cidade, onde exigiam que os assassinos de Abraão fossem encontrados e punidos. Houve tumulto e bate-boca – alguns moradores até ameaçaram depredar a unidade policial e linchar os suspeitos do crime, quando fossem encontrados. 'Nós já dissemos que não adianta depredar o patrimônio público, nem fazer nada disso. A situação já está sob investigação e o crime será punido. Além disso, as reivindicações dos moradores serão ouvidas pelo governo nas reuniões', disse a delegada Andrezza Franco, titular da Superintendência Regional do Baixo Tocantins.
EMOÇÃO
O crime que gerou revolta popular ocorreu por volta das 20h da última sexta-feira na PA-407, rodovia cujo trecho principal liga o centro de Igarapé-Miri à Vila de Maiauatá, distrito do município. Mototaxista ligado às associações municipais, Abraão fazia a rota centro-vila constantemente, segundo relatou a irmã dele, Cristiane Batista. Naquela noite, ele fazia ponto em um posto de gasolina quando dois homens morenos, trajando roupas escuras, lhe solicitaram uma corrida. No meio do caminho, ele foi baleado e teve sua moto roubada. O corpo só foi encontrado no sábado, quase 16 horas depois, jogado no canteiro da rodovia. 'Até agora não entendemos esse crime. Ele não era bandido. Não tinha inimigos. Foi morto enquanto trabalhava dignamente. Essa cidade definitivamente não é mais a mesma', disse Cristiane, emocionada, durante o protesto. 'As autoridades precisam ver que este foi apenas mais um caso que mostra o aumento da violência por aqui'

Fonte: O Liberal

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